Que dias tão cheios
poucos
queríamos mais
chegou a hora
tinha de ir
ali estivemos
à porta de tua casa
numa amarga despedida
talvez uma ou duas horas
abraçados
sem nada dizer
não me atrevia a largar-te
apertavas-me contra ti
numa ânsia que o tempo parasse
mas ele não nos fez a vontade
corria contra nós
tenho de ir CS disse baixinho
o abraço foi-se desfazendo lentamente
um beijo forte e rápido
"adiós" disseste
e entraste em casa
desci a rua em direcção ao carro
com um aperto no coração
quando abri a porta
ouvi-te gritar
"Faith ..."
vinhas a correr na minha direcção
novo abraço
fortíssimo quase violento
mais um beijo
ardente
assim ficamos mais meia hora
começas-te a chorar
apertei-te com os meus braços
"tranquila CS, volto em breve"
"no Faith"
deste-me um beijo
numa urgência ardente
intenso
como se o mundo estivesse preste a acabar
por fim largaste-me
o teu olhar fixo no meu
e com os olhos cheios mar
"este fue nuestro último beso Faith"
voltaste as costas
subiste a rua a correr
e sem nunca te virares
vi-te entrar em casa
Sim CS, foi o nosso ultimo beijo.
Faith é o meu nome. Se não fosse não estaria cá, nem aqui nem em parte alguma. E porque assim sou, e ainda aqui estou, deixo a minha alma vaguear, apanha-a se quiseres mas não me detenhas, tenho de ir. Se me prenderes, trata de mim, ama-me se conseguires ... ou mata-me de uma vez.
quinta-feira, 30 de abril de 2015
sábado, 25 de abril de 2015
BEIJO 6
Após meses de conversas pela net e por telefone
da crescente empatia e atracção
urgia o contacto físico e real
por isso tinha tirado duas semanas de férias
feito 600 km durante a noite
para estar de corpo e alma
diante de ti
...
afinal éramos dois estranhos,
os dois seres que se tinham apaixonado à distancia
não eram os mesmos que ali estavam frente a frente
...
o teu apelo e a minha viagem não podiam ter sido em vão
a paixão que tinha nascido em nós
apesar de virtual não podia ser um equivoco
...
decidimos começar do inicio
desta vez vivendo experiências juntos
de mãos dadas e olhos nos olhos
partilhando sentimentos
assim não haveria enganos
"no te vayas Faith, quédate conmigo"
...
fiquei
dois amigos recentes
um decidido a mostrar a sua cidade
o outro em deixar-se levar
ambos entregues ao que o Destino lhes reservaria
...
recordo a tua voz tão feminina e o teu sotaque madrileno
o teu rosto tão suavemente desenhado
de uma beleza tão simples
do toque dos nossos dedos, tão sensual, quase erótico
como se todo o nosso corpo estivesse concentrado ali
na ponta dos dedos
prazer tão doce e terno e ao mesmo tempo tão carregado de erotismo
...
"Te encanta el arte ?"
claro que sim "muchisimo"
levaste-me a conhecer a cidade
reservaste aquele dia para me levar ao Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia
querias que fosse especial aquele dia
e foi
...
percorremos as varia salas de exposição
eu estava excitadíssimo,como uma criança dentro do Toys'r'us
sempre que reconhecia uma obra de arte
ficava ali a debitar toda a informação que tinha sobre ela
conhecimento que era fruto das várias horas de história da arte na faculdade
e tu ficavas a olhar para mim com um sorriso lindíssimo
encantada com a euforia que a overdose de arte me provocava
escutavas-me sem olhar para as telas
provavelmente já as conhecias ou pouco te diziam
apenas desfrutavas de mim naquele momento
e do efeito que cada tela me provocava
outra sala, outra colecção, outra "moca"
nunca me largavas a mão
...
chegamos à entrada de outra sala
tapaste-me os olhos com as mãos
venda tão macia e suave
que me tinhas dado a conhecer nesses dias
desta vez nos meus olhos
impedindo que visse por onde me levavas
"ven, tengo una sorpresa"
deixe-me levar
dei vários passos acompanhando os teus
guiavas-me na escuridão para um espaço desconhecido
sentia-me bem assim
nada vendo apenas sentindo o toque suave das tuas mãos na minha cara
o teu corpo encostado ao meu
...
andamos alguns metros
algum tempo
pouco
paraste
viraste-me para o lado esquerdo
"ya está" disseste
lentamente retiraste as tuas mãos e voltei a ver
diante de mim o "Guernica"
...
foi como uma explosão
quase idêntica às que o quadro representava
conhecia-o dos livros de arte
sabia a sua história e o seu significado
mas ... não o conhecia realmente
esmagador, impressionante, enorme
tanto de violento como de belo
...
assim fiquei de boca aberta
como "um burro a olhar para um palácio"
arrepiado com aquela imagem
da qual não conseguia desviar os olhos
percorrendo pormenor a pormenor
sem nada conseguir dizer
durante este momento nem te vi
estavas a meu lado
creio que me observando
nem sei
só o "Guernica" e eu
...
este êxtase foi suavemente quebrado com o teu rosto
na minha frente
foquei-o
tão belo e suave
contrastando com a violência e o cinzento que presenciava no segundo anterior
sorriste
procuraste a minha atenção
certificaste-te que nos meus olhos em vez do Guernica já só habitava a CS
"me gustas mucho Faith"
e com as tuas mão novamente no meu rosto
deste-me um beijo
tão suave e simples como tu
tão sensual e erótico como o toque dos teus dedos
...
"que viciosa es tu boca Faith"
sexta-feira, 24 de abril de 2015
BEIJO 5
Chovia naquela noite
abrigados à porta do cinema
esperávamos que parasse de chover para podermos sair
enquanto isso íamos fazendo pequenos comentários sobre o filme que acabávamos de ver
por um momento ficamos calados
a sorrir um para o outro
observei-te
eras tão linda
com o teu sorriso de menina marota
cara de anjo que escondia a fogosidade que te ardia por dentro
linda a cor da tua pele
chocolate
inebriante o teu odor
coco
e eu que gosto tanto dos chocolates de coco
tão apetecível
também fazia frio
estavas a tremer e por isso tirei o meu casaco para te proteger os ombros nus
toquei de leve na tua pele
tão macia
sentiste o meu toque
pois viraste o teu rosto para mim
e agradecendo passas-te a língua de leve pelos teus lábios
ateando-me um fogo que já ardia em lume brando
a chuva abrandou
é a nossa oportunidade
"vamos agora"
saímos à rua em direcção ao carro
estava longe
voltou a chover
desta vez com maior intensidade
carga de água
os saltos dos sapatos que te faziam ainda mais alta
não te deixavam andar depressa
debaixo da chuva
abracei-te para te amparar
tu também
sentia a tua mão no bolso de trás das minhas calças
tocando-me o rabo
já molhados
paraste
virei-me para tentar perceber porquê
estavas a tremer
com o rosto molhado
disseste-me
" Faith, estou gelada, ... beija-me"
beijei-te
num beijo guloso
como se comesse um chocolate de coco
beijei-te
num abraço apertado
beijei-te
um beijo que me queimava
ardente e saboroso
não sei se durou segundos ou ... horas
a chuva continuava a cair
beijo molhado e quente
muito quente
com sabor a chocolate de coco
... delicioso
quarta-feira, 22 de abril de 2015
BEIJO 4
Colegas de trabalho
que 6m2 de gabinete partilhado
transformaram em parceiros,
cúmplices de esquemas
e foi assim que se alicerçou a amizade
tão sólida,
ainda hoje intacta
apesar das intempéries e terramotos que a abalaram
sim,
ainda hoje intacta
inquebráveis os seus alicerces.
horas a fio lado a lado
os meus olhos postos no monitor do PC
que descansavam quando me virava para o lado e encontrava os teus
pausa tão doce
brindavas-me sempre com o teu sorriso
único
tal como os teus olhos
que olhar tão doce
e assim ficávamos
entre trabalho e conversa
partilhas e olhares
o tempo fluía
e quando todos saiam
nós ficávamos
a trabalhar
lado a lado
frente a frente
já não era para a empresa
era para nós
juntos naqueles 6m2
que nem janelas tinham
respirando o mesmo ar
sentindo teu cheiro
partilhando os suspiros e os sorrisos
escutando a mesma musica,
sim, escutávamos a mesma musica
sintonia perfeita
e foi numa destas pausas
já sós e para nós
que o teu olhar suplicou o meu
(ou o meu o teu)
um impulso me moveu
como se algures estivesse escrito
que aquele era o momento
de sentir o teu sabor
num beijo intenso
quebramos a linha que impedia sermos um
num beijo intenso
tornamos-nos um
ali mesmo
e noutro lugar
porque naquele momento
só nós existíamos
o tempo parou
espaço desvaneceu-se
éramos só nós
num só
E adormecemos assim
tu sobre mim
o teu rosto no meu peito
e ainda te ouvi dizer baixinho,
doce e claramente:
"tão bom, eu tenho um Faith".
segunda-feira, 20 de abril de 2015
BEIJO 3
Começou pela amizade
espontânea
surgiu naturalmente
sem procurar ela veio
abrindo a porta à cumplicidade
tão simples
sem rodeios
nem defesas
de coração aberto sem nada temer
sem medos nem tabus
enchemos os ombros um do outro com lágrimas
acalmando mágoas antigas
rimos de tudo e de todos
parceiros na seriedade e na irreverencia
dois seres tão diferentes
no entanto tão sintonizados
visões distintas
completando-se uma na outra
Começou pela amizade
que ainda hoje o é
e para sempre será
tão livre e indefesa era
que os limites desconhecíamos
confundindo sentimentos
misturando entendimento
sem saber o seu começo
muito menos onde termina
Começou pela amizade
tão pura e forte
que me arrebatou
e ao olhar para ti
me fez desejar-te de outro modo
e de um impulso avancei
por duas vezes arrisquei
por duas vezes docemente me travaste
sem me culpar, nem me julgar
por duas vezes me senti traidor
desta amizade tão pura
Começou pela amizade
e para melhor a desfrutar
fugimos num fim de semana
dois dias na praia
costa alentejana e uma tenda
tão diferentes, tão companheiros
ao ponto de nada recear
fim de um dia bem passado
e ainda temos mais outro
observas-me enquanto me dispo
observo-te enquanto te despes
boa noite ...
Começou pela amizade
no entanto desejei-te para além disso
senti que te queria
incapaz de me conter
acariciei teu cabelo comprido
depois o teu rosto
fui descendo
pelo pescoço
toquei o teu peito
suavemente
apenas acariciando
com o meu corpo já vibrando
lutei para segurar a fera que nascia em mim
no entanto larguei-a na tua direcção
seguras-te-me no ultimo segundo
quando já não conseguia parar,
pela nossa amizade
parei
voltei a deitar-me
de costas para ti
e chorei
senti-me uma besta
chorei de revolta
traí a nossa amizade
Ouvi-te perguntar:
"Faith, é isso que tu queres?"
não respondi, não fui capaz
puxas-te-me
"anda, vem"
virei-me para ti
beijei-te
já a tua boca procurava a minha
beijo que começou suave
depois crescendo numa ânsia de te comer
despiste-me
despi-te
senti que também me querias
num beijo que já nem beijo era
mas sim mutua entrega
partilha de corpos
entrei em ti,
dois seres tão diferentes
que tal como na amizade
se completavam tornando-se um só
recebeste-me
e eu fui teu
ali naquele chão
Começou pela amizade
e sempre será
pois por ela fui teu
e de certo modo sempre serei,
sabes porquê ?
Nunca te disse,
talvez tenhas percebido
ou explique agora muita coisa
Começou pela amizade
e valeu a pena esperar
para que viesses tu a ser
a primeira.
Nunca te disse,
digo-te agora.
espontânea
surgiu naturalmente
sem procurar ela veio
abrindo a porta à cumplicidade
tão simples
sem rodeios
nem defesas
de coração aberto sem nada temer
sem medos nem tabus
enchemos os ombros um do outro com lágrimas
acalmando mágoas antigas
rimos de tudo e de todos
parceiros na seriedade e na irreverencia
dois seres tão diferentes
no entanto tão sintonizados
visões distintas
completando-se uma na outra
Começou pela amizade
que ainda hoje o é
e para sempre será
tão livre e indefesa era
que os limites desconhecíamos
confundindo sentimentos
misturando entendimento
sem saber o seu começo
muito menos onde termina
Começou pela amizade
tão pura e forte
que me arrebatou
e ao olhar para ti
me fez desejar-te de outro modo
e de um impulso avancei
por duas vezes arrisquei
por duas vezes docemente me travaste
sem me culpar, nem me julgar
por duas vezes me senti traidor
desta amizade tão pura
Começou pela amizade
e para melhor a desfrutar
fugimos num fim de semana
dois dias na praia
costa alentejana e uma tenda
tão diferentes, tão companheiros
ao ponto de nada recear
fim de um dia bem passado
e ainda temos mais outro
observas-me enquanto me dispo
observo-te enquanto te despes
boa noite ...
Começou pela amizade
no entanto desejei-te para além disso
senti que te queria
incapaz de me conter
acariciei teu cabelo comprido
depois o teu rosto
fui descendo
pelo pescoço
toquei o teu peito
suavemente
apenas acariciando
com o meu corpo já vibrando
lutei para segurar a fera que nascia em mim
no entanto larguei-a na tua direcção
seguras-te-me no ultimo segundo
quando já não conseguia parar,
pela nossa amizade
parei
voltei a deitar-me
de costas para ti
e chorei
senti-me uma besta
chorei de revolta
traí a nossa amizade
Ouvi-te perguntar:
"Faith, é isso que tu queres?"
não respondi, não fui capaz
puxas-te-me
"anda, vem"
virei-me para ti
beijei-te
já a tua boca procurava a minha
beijo que começou suave
depois crescendo numa ânsia de te comer
despiste-me
despi-te
senti que também me querias
num beijo que já nem beijo era
mas sim mutua entrega
partilha de corpos
entrei em ti,
dois seres tão diferentes
que tal como na amizade
se completavam tornando-se um só
recebeste-me
e eu fui teu
ali naquele chão
Começou pela amizade
e sempre será
pois por ela fui teu
e de certo modo sempre serei,
sabes porquê ?
Nunca te disse,
talvez tenhas percebido
ou explique agora muita coisa
Começou pela amizade
e valeu a pena esperar
para que viesses tu a ser
a primeira.
Nunca te disse,
digo-te agora.
domingo, 19 de abril de 2015
BEIJO 2
Lembro-me tão bem deste dia
15 de Agosto de 1991
a minha vida tinha chegado a uma encruzilhada
tantos caminhos
e sem saber qual seguir
perguntava ao meu coração
"que queres tu da vida?"
"para onde queres tu seguir?"
apenas o sentia dizer:
"quero muito ..."
mas nunca dizia o quê
provavelmente seria algo que ainda não conhecia
por isso não sabia o que queria.
Tinha sido por isso que tinha vindo a esta "Peregrinação"
Ansiava respostas para as minhas dúvidas e indecisões
que me fosse revelado um caminho a seguir.
Lisboa, San Sebastian, Tours, Frankfurt, Cracóvia ...
e finalmente Czestokowa.
Fazia calor naquele dia
não só pelo que me era oferecido pelo Sol
mas também pela alegria de milhares de jovens que ali se encontravam
eram de todas as nacionalidades
enchiam o recinto de Jasna Góra
e toda a longa avenida até à praça Ignacego Daszynskiego onde me encontrava
o som das violas e dos batuques era contagiante
todos reunidos em grupos por nacionalidade
que ao fim de algum tempo de transformavam em pequenos subgrupos interraciais
unidos por um só espírito
o da alegria e da paz
o meu grupo desmembrou-se em vários subgrupos
sabíamos apenas que no dia seguinte tínhamos que estar todos num determinado local
ás 12:00 para apanhar o transporte para Varsóvia
até lá éramos livres de viver a festa da Juventude nas ruas de Czestokowa
fiquei num subgrupo de cerca de 8 tugas que de imediato se juntaram a outro vindo de Madrid
a empatia com os espanhóis era evidente,
despertou-me a atenção um pequeno grupo de polacos que estava próximo,
mais contidos mas que emanavam uma tranquilidade e uma paz irresistível
- "Ó pessoal, vão ficar por aqui? Eu vou ali ter com aqueles polacos, se forem embora avisem, ok?"
Procurei meter conversa
fui de imediato aceite com enormes sorrisos
percebi que nenhum me entendia mas que isso para eles era indiferente
- "any of you speak english ?"
um rapaz louro (na verdade todos eram) e com um ar tranquilo
levantou a mão "I do my brother"
sentei-me próximo dele e fui falando
ficou oficialmente o interprete do grupo
e eu o centro das atenções
eram do Sul da Polónia, Krosno
tinham saído de madrugada para estar ali,
ao fim de varias perguntas e respostas de ambas as partes
e sempre com o jovem tradutor pelo meio
um sorriso com cara de anjo despertou a minha atenção
rosto redondo, limpo, cabelos louros aos caracóis
um Anjo em forma de jovem mulher
não eras a mais bonita e vistosa do grupo
mas foste a que me tocou o coração
senti que o acariciavas
perguntei-te o nome
e da tua boca saiu um som doce e celestial "mam na imie TP"
a partir daquele momento a conversa passou a ser a três
eu tu e o teu amigo tradutor
explicaste quem eras,
que querias ser educadora infantil
casar e ter muitos filhos
ter uma família,
falei-te de mim, quem era, de onde vinha, etc,
por fim o tradutor virou-se para outro lado
e começou a tocar viola e a cantar acompanhado do resto do grupo
ficamos só nós no meu daquela imensidão de gente
ainda tentei explicar que falava português, espanhol, inglês, francês e ainda entendia italiano
sorriste, encolheste os ombros e disseste "polskim i rosyjskim".
a partir daquele momento a comunicação passou a ser por gestos e com desenhos
funcionou
passaram as horas já era de noite
os batuques e as violas continuavam mas agora de um modo mais suave
o meu grupo de tugas veio ter comigo
"Como é ? Olha nós vamos mais para próximo da Catedral e devemos ficar a dormir por lá"
Expliquei-te que tinha de ir mas que voltava na manhã seguinte antes de partir
agarraste-me o braço e disseste com doçura: "zostan ze mna, prosze, "
não precisei de tradutor
"Malta eu fico aqui, encontra-mo-nos amanhã, no ponto de encontro"
Fiquei,
ficamos os dois encostados um ao outro a ouvir os sons que ora vinham de um lado ora de outro
umas vezes de musica outras de orações dos mais devotos.
adormecemos ...
Acordei enrolado no meu caco cama logo ao raiar dos primeiros raios do Sol
muitos dormiam ainda estendidos nos sacos seus cama
na praça e ao longo da avenida,
tu também,
no teu saco cama ... ao meu lado
fiquei a ver-te
cara de anjo doce
linda e pura
por fim acordaste
sorriso envergonhado "dzien dobry"
"bom dia TP "respondi
ficamos a olhar um para o outro
por fim deste uma gargalhada e apontaste para o meu cabelo
estava todo despenteado por ter dormido com a cabeça em cima da mochila
molhei o cabelo com agua e tentei pentear-me envergonhado
aproximaste-te e com as tuas mãos ajeitaste-me o cabelo
depois esticaste o polegar em sinal de aprovação
arrumamos a os sacos camas e as mochilas
o teu grupo continuava ali
o meu ... sei lá onde andava
fizeste sinal a perguntar quando tinha até me ir embora
escrevi num papel 11:30
levantaste-te e deste-me a mão e disseste: "chodz ze mna"
deixei-me levar por ti
andamos pelas ruas de Czestokowa de mão dada
ias falando sempre
apontavas para um lado e para o outro
explicando alguma coisa presumo eu
não percebia nada do que dizias
mas o importante não era perceber o que as tuas palavras diziam
mas sim o efeito que a sua doçura produzia em mim
PAZ
deixei-me levar
nem sei quanto tempo
o tempo deixou de existir
enquanto andávamos de mão dada, tu falavas e eu escutava
sentia a doçura da tua voz e o calor da tua mão
por fim voltamos ao local de partida
o teu grupo esperava-te
apontaste para o relógio
11:25
ficámos de mão dada olhos nos olhos
assim
algum tempo
talvez os 5 minutos que faltavam
na verdade não sei
como dizer adeus?
disseste tu:"do widzenia, moj przystojny"
e ao mesmo tempo aproximamos o rosto
os nossos lábios tocaram-se numa leve e breve pressão
suavemente,
os nossos corações também se tocaram, deixando uma doce marca um no outro
afastei-me lentamente até as nossas mão se separarem
sorriste com a tua cara de anjo
segui rua acima deixando-te para trás
por duas vezes me virei
por duas vezes te vi imóvel a sorrir
cara de anjo
até que virei a esquina
...
se eras mesmo um anjo
não sei
mas a partir daquele dia
o meu coração ficou a saber que caminho seguir
o que afinal tanto queria:
Amar uma mulher, ter filhos, uma família e confiar em Deus.
Sabes TP,
de vez em quando penso que tudo isto não passou de um sonho
mas quando vejo as tuas fotos e as cartas (em polaco) que me escreveste
sei que foi real.
Será que um dia nos voltaremos a cruzar?
15 de Agosto de 1991
a minha vida tinha chegado a uma encruzilhada
tantos caminhos
e sem saber qual seguir
perguntava ao meu coração
"que queres tu da vida?"
"para onde queres tu seguir?"
apenas o sentia dizer:
"quero muito ..."
mas nunca dizia o quê
provavelmente seria algo que ainda não conhecia
por isso não sabia o que queria.
Tinha sido por isso que tinha vindo a esta "Peregrinação"
Ansiava respostas para as minhas dúvidas e indecisões
que me fosse revelado um caminho a seguir.
Lisboa, San Sebastian, Tours, Frankfurt, Cracóvia ...
e finalmente Czestokowa.
Fazia calor naquele dia
não só pelo que me era oferecido pelo Sol
mas também pela alegria de milhares de jovens que ali se encontravam
eram de todas as nacionalidades
enchiam o recinto de Jasna Góra
e toda a longa avenida até à praça Ignacego Daszynskiego onde me encontrava
o som das violas e dos batuques era contagiante
todos reunidos em grupos por nacionalidade
que ao fim de algum tempo de transformavam em pequenos subgrupos interraciais
unidos por um só espírito
o da alegria e da paz
o meu grupo desmembrou-se em vários subgrupos
sabíamos apenas que no dia seguinte tínhamos que estar todos num determinado local
ás 12:00 para apanhar o transporte para Varsóvia
até lá éramos livres de viver a festa da Juventude nas ruas de Czestokowa
fiquei num subgrupo de cerca de 8 tugas que de imediato se juntaram a outro vindo de Madrid
a empatia com os espanhóis era evidente,
despertou-me a atenção um pequeno grupo de polacos que estava próximo,
mais contidos mas que emanavam uma tranquilidade e uma paz irresistível
- "Ó pessoal, vão ficar por aqui? Eu vou ali ter com aqueles polacos, se forem embora avisem, ok?"
Procurei meter conversa
fui de imediato aceite com enormes sorrisos
percebi que nenhum me entendia mas que isso para eles era indiferente
- "any of you speak english ?"
um rapaz louro (na verdade todos eram) e com um ar tranquilo
levantou a mão "I do my brother"
sentei-me próximo dele e fui falando
ficou oficialmente o interprete do grupo
e eu o centro das atenções
eram do Sul da Polónia, Krosno
tinham saído de madrugada para estar ali,
ao fim de varias perguntas e respostas de ambas as partes
e sempre com o jovem tradutor pelo meio
um sorriso com cara de anjo despertou a minha atenção
rosto redondo, limpo, cabelos louros aos caracóis
um Anjo em forma de jovem mulher
não eras a mais bonita e vistosa do grupo
mas foste a que me tocou o coração
senti que o acariciavas
perguntei-te o nome
e da tua boca saiu um som doce e celestial "mam na imie TP"
a partir daquele momento a conversa passou a ser a três
eu tu e o teu amigo tradutor
explicaste quem eras,
que querias ser educadora infantil
casar e ter muitos filhos
ter uma família,
falei-te de mim, quem era, de onde vinha, etc,
por fim o tradutor virou-se para outro lado
e começou a tocar viola e a cantar acompanhado do resto do grupo
ficamos só nós no meu daquela imensidão de gente
ainda tentei explicar que falava português, espanhol, inglês, francês e ainda entendia italiano
sorriste, encolheste os ombros e disseste "polskim i rosyjskim".
a partir daquele momento a comunicação passou a ser por gestos e com desenhos
funcionou
passaram as horas já era de noite
os batuques e as violas continuavam mas agora de um modo mais suave
o meu grupo de tugas veio ter comigo
"Como é ? Olha nós vamos mais para próximo da Catedral e devemos ficar a dormir por lá"
Expliquei-te que tinha de ir mas que voltava na manhã seguinte antes de partir
agarraste-me o braço e disseste com doçura: "zostan ze mna, prosze, "
não precisei de tradutor
"Malta eu fico aqui, encontra-mo-nos amanhã, no ponto de encontro"
Fiquei,
ficamos os dois encostados um ao outro a ouvir os sons que ora vinham de um lado ora de outro
umas vezes de musica outras de orações dos mais devotos.
adormecemos ...
Acordei enrolado no meu caco cama logo ao raiar dos primeiros raios do Sol
muitos dormiam ainda estendidos nos sacos seus cama
na praça e ao longo da avenida,
tu também,
no teu saco cama ... ao meu lado
fiquei a ver-te
cara de anjo doce
linda e pura
por fim acordaste
sorriso envergonhado "dzien dobry"
"bom dia TP "respondi
ficamos a olhar um para o outro
por fim deste uma gargalhada e apontaste para o meu cabelo
estava todo despenteado por ter dormido com a cabeça em cima da mochila
molhei o cabelo com agua e tentei pentear-me envergonhado
aproximaste-te e com as tuas mãos ajeitaste-me o cabelo
depois esticaste o polegar em sinal de aprovação
arrumamos a os sacos camas e as mochilas
o teu grupo continuava ali
o meu ... sei lá onde andava
fizeste sinal a perguntar quando tinha até me ir embora
escrevi num papel 11:30
levantaste-te e deste-me a mão e disseste: "chodz ze mna"
deixei-me levar por ti
andamos pelas ruas de Czestokowa de mão dada
ias falando sempre
apontavas para um lado e para o outro
explicando alguma coisa presumo eu
não percebia nada do que dizias
mas o importante não era perceber o que as tuas palavras diziam
mas sim o efeito que a sua doçura produzia em mim
PAZ
deixei-me levar
nem sei quanto tempo
o tempo deixou de existir
enquanto andávamos de mão dada, tu falavas e eu escutava
sentia a doçura da tua voz e o calor da tua mão
por fim voltamos ao local de partida
o teu grupo esperava-te
apontaste para o relógio
11:25
ficámos de mão dada olhos nos olhos
assim
algum tempo
talvez os 5 minutos que faltavam
na verdade não sei
como dizer adeus?
disseste tu:"do widzenia, moj przystojny"
e ao mesmo tempo aproximamos o rosto
os nossos lábios tocaram-se numa leve e breve pressão
suavemente,
os nossos corações também se tocaram, deixando uma doce marca um no outro
afastei-me lentamente até as nossas mão se separarem
sorriste com a tua cara de anjo
segui rua acima deixando-te para trás
por duas vezes me virei
por duas vezes te vi imóvel a sorrir
cara de anjo
até que virei a esquina
...
se eras mesmo um anjo
não sei
mas a partir daquele dia
o meu coração ficou a saber que caminho seguir
o que afinal tanto queria:
Amar uma mulher, ter filhos, uma família e confiar em Deus.
Sabes TP,
de vez em quando penso que tudo isto não passou de um sonho
mas quando vejo as tuas fotos e as cartas (em polaco) que me escreveste
sei que foi real.
Será que um dia nos voltaremos a cruzar?
sexta-feira, 17 de abril de 2015
BEIJO 1
Foi há tantos anos
tu com 15 e eu com 17
eras amiga dos meus amigos
tu a miúda da vila e eu o gajo da cidade
já te tinha visto no ano anterior, nas férias
já me tinham dito: "olha que a CL anda apaixonada por ti",
associei de imediato à carta com a declaração de amor
anónima e infantil
coisas de adolescentes
sim era o que nós éramos
adolescentes que de nada sabiam e que tudo queriam viver
eu queria amigos(as), partilhar momentos
tu querias agarrar o mundo ... e a mim.
Nessa noite estávamos no largo, éramos muitos
muitos risos e conversa de putos,
sempre que cruzávamos o olhar ficavas corada e baixavas a cabeça
fazendo com que os teus cabelos louros te tapassem a cara
Eras linda, corpo de inicio de mulher
roupa curta que deixava mostrar as tuas pernas torneadas,
o teu umbigo e os ombros,
tão apetecível
despertava em mim vontade de ... ainda nem sabia bem de quê
por isso mesmo nada fiz, apenas te olhava
A certa altura despediste-te : Adeus malta, até amanhã"
começaste a subir a rua
logo alguém me espicaçou : "Ó estúpido, vai atrás dela",
hesitei ... o coração disparou
fui
já te apanhei a meio da subida
perguntei se te podia acompanhar a casa
e sem mostrares surpresa respondeste que não me incomodasse porque sabias o caminho para casa
... "mas se quiseres ..."
eu quis
subimos a rua em silêncio
a minha cabeça um turbilhão
ao chegar ao alto
olhamos os dois para a esquerda
o mirante
a vontade era ir para lá
mas viramos à direita em direcção à tua rua
em silêncio
chegamos ao inicio da tua rua
paraste ... e eu também
sem olhar para mim disseste, com o teu acentuado sotaque algarvio, que a partir dali era melhor seguires sozinha porque as vizinhas eram muito alcoviteiras, deviam estar todas a espreitar à janela e no dia seguinte iam "falar".
ficámos assim uns momentos
tu à espera
eu a tremer
quando viste que eu nada fazia disseste adeus com a voz embargada
agarrei-te o braço
e viraste-te para mim com a cabeça baixa
cabelos a tapar a cara
segurei-te o rosto com as duas mãos
levantei-o para mim
os nossos olhos olharam-se como nunca se tinham olhado
estavas a chorar
limpei-te as lágrimas com os polegares
puxei o teu rosto para o meu
... e dei-te um beijo, suave, fresco, doce
apenas o pressionar dos lábios entreabertos
o suficiente para sentir o teu sabor
sabias a pastilha elástica de morango
abracei-te
assim estivemos uns segundos
depois deixei-te ir
deste meia dúzia de passos
paraste e perguntaste: "e amanhã Faith ?"
respondi com um sorriso envergonhado: "amanhã há mais CL"
... e houve, muitos mais.
foi o primeiro beijo que dei com o coração, já lá vão 30 anos,
lembraste CL ?
domingo, 12 de abril de 2015
Medo
Tenho medo
de um dia deixar de Sonhar,
pois lá sou Feliz.
Tenho medo
que me roubem a Esperança,
é ela que me faz Acreditar.
Tenho medo
de perder o meu Nome,
sem ele ... deixo de Existir.
sábado, 11 de abril de 2015
Encontro
Busquei o Amor da minha Alma,
busquei-o sem o encontrar.
Encontrei o Amor da minha vida,
abracei-o, não o deixarei jamais.
(do "Cântico dos Cânticos")
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Viagem
Sigo viagem
nem sei bem à quanto tempo
muito menos por quanto
sigo apenas por esta estrada
faixa cinza em baixo, faixa azul e verde em cima
sempre em movimento embora esteja parada
sigo
uma vezes lentamente
de repente acelero que nem louco
pronto, está bem não vou passar os 140
dizem que não multam a esta velocidade
volto a abrandar, por vezes quase parado
acelero novamente, pé no acelerador
com esta condução gastas mais,
pois eu sei, eu sinto, vou (me) gastando
sigo
mas sabes para onde vais?
boa pergunta, ... não sei.
irei bem?
talvez não ... ou sim
sei lá
saiu na próxima?
devias parar para verificar o trajecto,
aqui não posso, paro mais à frente na estação de serviço
sigo
estou cansado,
estação de serviço, vou sair
parar um pouco, pouco tempo ... pois não há tempo
nunca há tempo
paro
verifico o percurso, ... bolas o GPS está desactualizado, ...esquece
vê no mapa
estou confuso, nem sei onde estou
parado numa estação de serviço em alguma parte
... em parte alguma
desligo o carro
e se sair?
e se esquecer a estrada?
e se seguir a pé pelo mato a dentro?
e se ...
oiço o respirar no banco de trás
os miúdos dormem com as cabeças encostadas
rostos de anjo
o meu coração acorda, aquece
e sorri,
ligo o carro, volto à estrada
e sigo viagem
quarta-feira, 1 de abril de 2015
Vim respirar
Venho aqui para respirar
porque há dias em que do outro lado não consigo
hoje é um desses dias
tudo me é exigido
tudo me é apontado
tudo me é cobrado
tudo tenho em falta
tudo faço mal
tudo devia ter feito
e o que fiz não devia
sou tudo erro
tudo falha
tudo fracasso
antes de começar já fui criticado
antes de começar já me é exigido
se sim devia ser não
se não ... porque disse sim?
se falo sou humilhado
se me calo sou ausente
um saco de porrada
sou um dado adquirido
sou dado como garantido
mas garantido não sou
porque um dia me vou
vim apenas respirar
agora vou ter de voltar
porque há dias em que do outro lado não consigo
hoje é um desses dias
tudo me é exigido
tudo me é apontado
tudo me é cobrado
tudo tenho em falta
tudo faço mal
tudo devia ter feito
e o que fiz não devia
sou tudo erro
tudo falha
tudo fracasso
antes de começar já fui criticado
antes de começar já me é exigido
se sim devia ser não
se não ... porque disse sim?
se falo sou humilhado
se me calo sou ausente
um saco de porrada
sou um dado adquirido
sou dado como garantido
mas garantido não sou
porque um dia me vou
vim apenas respirar
agora vou ter de voltar
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